Não foi um dia vulgar. Acordei, como naturalmente o faço todos os dias, e após verificar a minha caixa de correio electrónico, recebi a notícia de que teria sido aceite num projeto a decorrer na Jordânia, epicentro do Médio Oriente. Evidentemente, senti-me entusiasmado mas, ao mesmo tempo, absolutamente aterrorizado por força de uma dieta de notícias (rica em viés!) que constantemente nos é imposta pelos meios de comunicação social. Após muita ponderação e uma elevada dose de pressão social, tomei a decisão que acabou por me colocar em Amã no final do passado mês de Julho.
Através do Corpo Europeu de Solidariedade, programa financiado pela Comissão Europeia, e enviado pela Mais Cidadania, tive a oportunidade de lutar contra o meu próprio preconceito numa cultura que rapidamente me abraçou como um ente querido. Durante 6 meses, trabalhei com a IDARE for Sustainable Development, uma organização não governamental que se dedica a fomentar o desenvolvimento positivo d@s jovens Jordan@s para promover uma mudança sustentável ao nível da sociedade. O meu papel consistia no desenvolvimento de narrativas alternativas (curiosamente na área do viés dos meios de comunicação social… irónico, certo?) para um blog, cujo objetivo era combater o discurso de ódio e a radicalização. Felizmente e por estar a trabalhar com um grupo de pessoas incríveis, tive a oportunidade de usar as minhas competências para ajudar a organização numa série de outras dimensões, o que me permitiu crescer imenso tanto a nível pessoal como profissional. A reestruturação do website da organização, o desenvolvimento e análise de uma pesquisa que visava entender os hábitos da Geração Z na Jordânia, o apoio à estrutura de diálogo relativa à gestão de resíduos sólidos com crianças e adolescentes órfãos e, entre muitas outras, a criação do meu projeto pessoal na área da democratização da ciência e desenvolvimento do método científico como base do pensamento resumem o que foi esta experiência em termos profissionais.
Claro que todo este trabalho foi tomado a cabo na Jordânia, um dos países mais desenvolvidos do mundo Árabe, titular de uma cultura riquíssima que, quase dotada de um síndrome bipolar, tende a divergir e a convergir, alternativamente, com a nossa. A hospitalidade que tanto nos é familiar em Portugal pode ser encontrada em praticamente cada recanto desta pérola do Levante. Por outro lado, a gastronomia, apesar de baseada no nosso santíssimo azeite, é muito diferente mas, felizmente, também muito diversa e igualmente deliciosa. No início da minha experiência pensei que iria eventualmente acabar no hospital com uma overdose de falafel mas rapidamente percebi que a oferta era muito
mais ampla do que aquelas pequenas iguarias. Importa também salientar a beleza natural do país. Desde o mar morto ao deserto de Wadi Rum, são múltiplos os locais que nos deixam de boca aberta perante a sua grandeza e singularidade. Decerto poderia continuar mas facilmente me tornaria injusto tendo em conta a quantidade de eventos inesquecíveis que decorreram ao longo destes 6 meses.
Resumindo, esta experiência absolutamente enriquecedora permitiu que eu combatesse todos os meus preconceitos, o que me levou a desenvolver uma opinião perfeitamente fundamentada do que é realmente o Médio Oriente. Tenho a agradecer à Mais Cidadania e à IDARE por me terem dado a oportunidade de fazer parte deste projeto e a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para que eu voltasse a Portugal uma pessoa diferente. Aventurem-se e experimentem o Corpo Europeu de Solidariedade, não se vão arrepender.